Eu sei que vocês devem estar pensando que eu estou um pouco atrasado, pois o filme já é um pouco antigo e eu ainda não havia visto. Na verdade o documentário foi produzido e lançado em 2004, portanto praticamente 7 anos me separam dele. Mas tem um desconto, a gente sempre acha um, pois na época eu ainda não tinha o interesse por vinhos que tenho hoje, somente bebia sem maiores aspirações. Mas, deixando de lado o sentimentalismo e a pieguice, vamos ao que interessa que é falar um pouco sobre o documentário em si, que é o que eu pretendo fazer nas linhas seguintes.
Em linhas gerais o documentário trata da dualidade largamente discutida no mundo vitivinícola, que é a relação das tradições culturais com as inovações tecnológicas, a busca pela particularidade de cada vinho contra a padronização mundial dos paladares, as pequenas propriedades vinícolas versus os grandes conglomerados mundiais de produção vinícola, e assim por diante, se utilizando de personalidades (conhecidas ou não) do mundo vinícola que expõe suas opiniões sobre o assunto. Quase como uma investigação, o diretor Jonathan Nossiter percorre o mundo em países como França, Itália, Argentina e Estados Unidos colhendo entrevistas com pequenos e grandes produtores, consultores de negócios do vinho, mostrando as realidades de cada um e os bastidores de uma indústria que move milhões de dinheiros ao redor do mundo.
A grande discussão do filme se baseia na forte influência americana no mundo vinícola, principalmente através da família Mondavi, do uso indiscriminado das barricas de carvalho e a padronização do gosto de baunilha nos vinhos modernos, o emprego cada vez maior das tecnologias em contraponto a manipulação do homem e claro a acenssão dos críticos, principalmente Robert Parker e suas notas que vem a tempos comandando a onda de preços no mundo vinícola, especialmente em Bordeaux.
Outro exemplo dos tempos modernos e da globalização vinícola é a presença de Michel Rolland, famoso consultor vinícola (mais conhecido como flying winemaker, já discutido aqui) que é um exemplo crasso destes tempos de mudança da indústria vinícola, pois o mesmo não possui vinculo com qualquer vinícola mas presta consultoria em diversos lugares ao redor do mundo, criando o mesmo tipo característico de vinho seja na Argentina, seja na França em Bordeaux ou Languedoc.
O contraponto é mostrado no entanto quando pequenos produtores do Languedoc em conjunto com o prefeito local vetam a entrada de Robert Mondavi no mercado local, com medo da destruição da paisagem local, da concorrência do mercado local, da padronização dos vinhos e do abandono ao desenvolvimento dos terroirs e pequenas extensões de vinhedo que produzem vinhos tão particulares.
É claro que todas estas histórias se contrapõe e formam um grande comédia humana, com toques de humor e aspereza, mas mostrando o quão complexas estas relações podem se tornar. Outro aspecto que gera certa apreensão é a política e a guerra entre a diversidade e a padronização da produção. Nesta batalha entre os pequenos produtores versus grandes industriais, apontar heróis e vilões é uma tarefa mais difícil do que podemos imaginar. Mas vale a pena colocar no dvd e tomar uma taça de um bom bordeaux para acompanhar.
Até o próximo!