Na noite do último dia 17 de julho, tive a oportunidade de participar de uma degustação pra lá de especial na loja Vinhos de Bicicleta, em São José dos Campos no interior do estado de São Paulo. Desta vez, o pessoal da Vinhos de Bicicleta receberia em seu espaço, um simpático casal de portugueses que desde quando vieram de Portugal, buscaram trabalhar com suas origens e montaram por aqui uma importadora de vinhos. Esses profissionais do mundo do vinho iriam conduzir uma degustação especial de rótulos lusitanos de alto padrão. Os vinhos selecionados são verdadeiras raridades no Brasil e expressam as diferentes faces do sul de Portugal. A harmonização fora feita com comidas portuguesas típicas, especialmente preparadas pela talentosíssima chef de cozinha, Adriana Rebouças.
A
Vinhos de Bicicleta nasceu primeiramente como um clube de vinhos, depois de uma viagem de seu fundador,
Rodrigo Ferraz, a Mendoza na Argentina. Esta viagem tinha como foco bodegas de pequeno porte, as chamadas bodegas boutique ou familiares (já falei sobre isso
aqui) e a atmosfera intimista com os vinhos artesanais de cada lugar. Rodeado de história, aromas e sabores, inebriado pela paisagem percorrida, Rodrigo veio com a idéia de fundar um clube de vinhos com foco neste estilo de vinho, e começou a garimpar exemplares ao redor do mundo. Algum tempo depois conseguiu ainda abrir uma loja física com espaço para eventos/degustações e voilá, lá estávamos na sede da
Vinhos de Bicicleta. E devo dizer que a loja física deles é muito bacana, uma boa seleção de rótulos, espaço aconchegante e muito bem localizada em São José dos Campos, no interior de São Paulo.
O primeiro vinho da noite foi o Casal do Cerrado Tinto 2012, vinho este produzido pela Vinícola Venâncio da Costa Lima, uma das adegas mais antigas da região de Palmela, em Portugal, com início das atividades ainda em 1914. Sendo um negócio familiar, esta adega já estas nas mãos da quarta geração. Seu fundador, Venâncio da Costa Lima, nasceu em 1892 , na povoação de Quinta do Anjo e em 1914 fundou a Casa Agrícola de mesmo nome. Durante a sua vida, tornou-se pessoa muito considerada e estimada na região, ocupando inclusive a posição de prefeito de Palmela. O vinho em questão é um corte de 80% Castelão e 20% Aragonez da região de Península de Setúbal, mas ao sul de Portugal e sem passagem por madeira. Sendo assim se mostrou um vinho jovem, fácil de beber, de coloração violácea e aromas de frutos vermelhos bem maduros, corpo médio e boa acidez. Um excelente vinho para o dia a dia. Este vinho foi harmonizado com uma releitura de uma torta típica portuguesa, que recebe presunto, cebola, ervilhas e ovo cozido em seu recheio. Começávamos a noite de maneira bacana.
O segundo vinho mostrado foi o Vidigueira Tinto, vinho este produzido pela Adega Cooperativa da Vidigueira, na região do Alentejo, em Portugal. A vinícola iniciou a sua atividade em 1963, porém a sua história vai muito além dos seus 50 anos de existência, tendo antigas raízes que se entrelaçam com a história da própria Vila da Vidigueira e da história da família dos Gama. Tanto é assim que o vinho faz parte de uma trilogia (Atos I, II e este, o III) que representam passagens das histórias dos navegantes portugueses e as rotas para as Índias. Pois bem, este vinho é um corte de Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouschet, porém desta vez com estágio em carvalho. Já se apresenta com uma coloração rubi com tendências granada, aromas de frutos vermelhos, especiarias e toques de baunilha. Na boca possui corpo médio para encorpado, taninos redondos e uma boa acidez. Tem um final de média para longa duração. Eu diria que está no mesmo nível do primeiro porém um pouco mais complexo. Desta vez a harmonização se deu com um espeto de azeitona recheada e presunto cru. Delicioso!
O terceiro vinho da noite foi o Herdade da Figueirinha Reserva 2011, desta vez produzido pela Vinícola Monte Novo e Figueirinha, novamente na região do Alentejo, em Portugal. Foi fundada em 1998 e tem uma área de 300 hectares de terra plana e boa qualidade, perto de S. Brissos, a cerca de 5 km de Beja, no Alentejo, a região sul de Portugal. O Herdade da Figueirinha Reserva 2011 é um vinho Regional Alentejano produzido a partir das castas Trincadeira, Aragonêz, Alicante Bouschet, Syrah e Cabernet Sauvignon com passagem por carvalho. Possui coloração violácea de grande intensidade, bom brilho e pouca transparência. Aromas de frutos vermelhos em compota, pimenta e baunilha. Taninos presentes, macios, bom corpo e acidez refrescante. Continuávamos a subir o patamar dos vinhos apresentados. Harmonizado com salada de bacalhau e batatas, foi bem.
E chegávamos ao ápice da noite, o Fonte Mouro Reserva 2004, da mesma vinícola do vinho acima. Outro vinho Regional Alentejano, produzido a partir de uvas das castas Trincadeira, Aragonêz, Alfrocheiro, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon com estágio em barricas de carvalho francês e americano durante 12 meses. Detalhe: o vinho ficou respirando por cerca de uma hora em decanter antes da prova. Um vinho de coloração rubi com tendência granada e aromas que remetem a frutos escuros maduros, especiarias, notas de flores toques de baunilha. Em boca se mostrou encorpado e opulento, taninos já amaciados com o tempo e acidez ainda viva. Retrogosto confirma tudo até aqui descrito com um belo e longo final. Um baita vinho! Foi harmonizado com, opa, nem me lembro direito pois ele por si só já era um deleite!
Ao final a noite, também era hora de aproveitarmos uma mesa com azeites, queijos e antepastos especialmente preparados para o evento. Era hora de nos despedirmos de mais um evento sensacional. E com alguns brindes em outros vinhos que relatarei depois, no tempo adequado, saímos com a sensação de quero mais. Se estiverem em São José dos Campos e ainda não conhecem a Vinhos de Bicicleta, recomendo que o façam.
Até o próximo!