Dando continuidade a postagem anterior, como eu vinha dizendo, continuávamos a aprender sobre o processo de vinificação e agora teríamos uma chance de ouro: provaríamos um vinho da uva Merlot que tinha acabado de passar pela fermentação alcoólica e não havia passado pela malolática. Era um recém nascido assim por se dizer. Em virtude da etapa do processo em que se encontrava o vinho, ainda não conseguíamos sentir os aromas que normalmente sentimos quando estamos com uma taça de vinho em nossas mãos. Ele tinha álcool sobrando e no nariz tinha um frutado mais voltado para o aroma das uvas ainda. Na boca tinha uma acidez um pouco mais agressiva, era quente (álcool sobressaindo) e tinha taninos bem marcados. Aliás a combinação álcool e taninos quando combinada e em excesso tende a crescer um pouco mais. Um quê de amargor no final que em determinado incomodou um pouco.
| Cristais de tártaro nas paredes internas da cave, que antes foram utilizadas também como lagares |
Passada a fase experimental e prática da aula, passaríamos então a uma área externa da vinícola, a mesma em que tivemos o privilégio de tomar o café da manhã, mas com uma vista ainda mais bonita: o céu nos brindara com um azul de brigadeiro e um sol bonito iluminando o dia que se seguia. Era hora de provar alguns vinhos que a vinícola produz e almoçar. Tentando não deixar o post cansativo e muito grande como o anterior, vou destacar aqui 3 vinhos.
| Cardápio do almoço |
O primeiro vinho que gostaria de destacar é um exemplar curioso: apesar de ser um vinho considerado de mesa, em boca não demonstra tal vocação. Falo do Palmares Branco Seco Moscato. Vinho simples, fragrante e perfumado com toques de frutos e flores, é fresco na medida e agradável. Serve bem de aperitivo e para uma entradinha leve, tanto que com os petiscos e com a saladinha foi bem. Entrega o que promete sem cerimonias.
Depois a coisa ficou séria e um vinho que também tem a vocação de ser para o dia a dia, até pelo preço praticado, mas que também se mostrou companheiro de uma boa refeição. Era a vez do Bella Quinta Cabernet Sauvignon Reserva 2006. Vocês não leram errado não, era um vinho 2006 mesmo. Passou 8,5 meses em barricas de carvalho e mais um tempo em garrafa. Frutos vermelhos bem maduros em primeiro plano. Depois especiarias e leve toque herbáceo. Tripé acidez, taninos e corpo muito equilibrado. Macio e fácil de beber. Esse acompanhou de forma heróica suculentos bifes de filé mignon.
Por fim uma grande, e grata, surpresa. Um vinho de sobremesa incrível e inusitado. Falo do Branco Licoroso Niágara. E haja curiosidade também com este vinho. As uvas, de mesa e não viníferas, da primeira safra que compõe o vinho foram colhidas em 1990 e ficaram em um tonel de 1500 litros desde então, sendo sempre retiradas amostras do vinho e repostas a cada vez que isso ocorre. As uvas são dali mesmo, num parreiral que conseguíamos avistar e chegar bem perto. De coloração âmbar e com notas de frutos secos como damasco e toques de mel o vinho era doce mas não era enjoativo pois tinha uma acidez que conseguia fazer um contra ponto interessante. Esse foi companheiro de sorvete de creme e manjar branco.
| Área externa da vinícola |
E assim passamos mais um pedaço da tarde, curtindo a vista, a comida, a bebida e os amigos. Era o fim de uma grande experiência, de muito aprendizado e de uma oportunidade incrível de participar, mesmo que de maneira curta, no processo de produção de uma vinho. A quem nunca teve oportunidade, recomendo fortemente que o faça. O Gustavo, da Bella Quinta, costuma fazer isso sempre ao final da vindima e, tem projetos audaciosos para sua vinícola em São Roque. Quer transformar o lugar num espaço enoturístico aos moldes dos que já encontramos em regiões mais ao sul do país. Eu apoio a idéia e no que depender do blog, estaremos sempre prontos a divulgar e apoiar tais iniciativas.
Até o próximo!

Victor, adoro seus textos. Incrível sua sabedoria para a escrita, a gastronomia e os vinhos!
ReplyDeleteRafaela,
DeleteObrigado pelas palavras. É uma honra receber sua visita por aqui.
Espero que continue nos acompanhando.
Saudações!